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Nego Bispo: A Terra Dá, A Terra Quer – O Encontro da Sabedoria Quilombola com Pindorama

O poderoso e essencial livro A Terra Dá, A Terra Quer, de Antônio Bispo dos Santos, o inesquecível Nego Bispo, é uma jornada filosófica que desmantela a estrutura do pensamento colonial. Nossa gratidão se volta ao Clube do Livro daRaízes Desenvolvimento Sustentável por ter nos conduzido a esta leitura transformadora.

Contracolonialismo: Contra a Ordem Linear

A principal contribuição de Nego Bispo é o conceito de Contracolonialismo. Diferente de decolonizar (que pressupõe uma saída de um estado de colonização), Bispo afirma que povos como os quilombolas nunca foram dominados em sua essência, mantendo a circularidade e a ancestralidade vivas. A luta é, portanto, ativamente contra a persistência colonial, que ele associa à lógica linear, eurocristã e predatória.

Sua crítica à Cosmofobia – o medo do cosmos e o desprezo pela natureza – é afiada. Bispo vê o Humanismo como uma falha, pois coloca o Homem no centro, acima da Terra e de outros seres, perpetuando a exploração e a destruição.

Ouça Nego Bispo explicando o conceito central do livro:

  • Podcast 451 MHz: A terra dá, a terra quer — Nego Bispo (56 min)

A Confluência: Nego Bispo e Ailton Krenak em Diálogo

O projeto de Nego Bispo é um projeto de Confluência de saberes. A voz que melhor ressoa em uníssono com a do pensador quilombola é a do líder e intelectual indígena Ailton Krenak.

Ambos os mestres convergem na crítica ao conceito de Desenvolvimento e ao modelo de sociedade que coloca o lucro acima da vida. Nego Bispo afirma que “Desenvolver é desconectar” (afastar-se do cosmo e da originalidade).

Ailton Krenak, em obras como Ideias para Adiar o Fim do Mundo

, também propõe suspender essa ideia de futuro linear, defendendo que é preciso “frear o céu” para reaprender a sonhar coletivamente com a Terra.

Onde o quilombola enxerga a circularidade e a reciprocidade, o indígena, através de Krenak, enxerga a necessidade de ativar a nossa capacidade de narrar o cosmos e de perceber a interconexão de todas as vidas. A luta deles é a mesma: condenar a lógica da acumulação e do descarte, propondo uma vida baseada na Diversalidade.

Assista ao encontro dos dois pensadores:

  • Ciclo Outras Economias – Cosmologias do Dinheiro | Nego Bispo e Ailton Krenak (Diálogo essencial sobre a invenção do dinheiro e o contracolonialismo)

Ouça Ailton Krenak sobre a necessidade de mudança:

  • Podcast: Ailton Krenak: ‘Acabou o céu azul, a gente conseguiu cobrir o país com fuligem’ (Crítica contundente ao desastre ambiental e à repetição colonial)

É importante notar que Nego Bispo utiliza o termo Pindorama em vez de Brasil. Pindorama é o nome original, na língua Tupi, que significa “Terra das Palmeiras” ou “Região das Palmeiras”. Ao usar este termo, Nego Bispo e outros pensadores contracoloniais subvertem a nomenclatura imposta pelos invasores e restauram a memória de um território que existia (e resistia) muito antes de ser batizado e enquadrado pelo projeto europeu. O uso de Pindorama é um ato político que reafirma a Diversalidade e a soberania dos povos originários sobre o território.

A profundidade e a relevância de Nego Bispo o estabelecem não apenas como um pensador, mas como uma voz eterna. A obra “A Terra Dá, A Terra Quer” transcende o tempo, agindo como um farol de sabedoria ancestral que expõe a fragilidade da nossa contemporaneidade. Bispo nos oferece um manual atemporal de resistência e existência, garantindo que seu legado – e a sabedoria do Quilombo Saco Curtume – permaneça inegavelmente sábio e dolorosamente atual, iluminando o caminho para um mundo mais diverso, respeitoso e, acima de tudo, necessário para todos os seres.

OGA
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